domingo, 26 de junho de 2011

#26


ALGUM SENTIDO?

Algo saiu do controle, está perdido

Aquela peça que faz o SISTEMA funcionar não está onde deveria estar

O quebra-cabeça está incompleto e todos estão procurando

Em algum lugar,

Nas mentes mais inquietas

Nas mentes mais absurdas que o planeta pariu.

Está aos pedaços agora

E todos choram ao ver o enigma incompleto

Gritamos, pulamos, pedimos a quem for

PARE!

CHEGA!

Não adianta mais manipular, controlar

Voltar ao passado é o registro da vergonha

Viver o presente é o suicídio de toda uma geração

E a peça que falta está lá

Naquele futuro alternativo

No qual ninguém e mais ninguém tem o poder absoluto

Onde todos são divinos.

Marcos P. S. Fachin

segunda-feira, 13 de junho de 2011

#25


CAP VII- FINAL

‘’Sentei num muro mas isso não funciona. Continuo fornecendo amor, mas ele está tão cortado e despedaçado...’’

O sol da selva entrou em meus olhos, com aquele cheiro podre do mundo e me fez tirar Patrícia dos meus sonhos. Renata já não se encontrava lá e o show iria começar.
Mais de dois milhões de visualizações daquela gravação que fiz da morte do velho, todos queriam saber quem foi o psicopata que realizou toda aquela anarquia, já estava à procura. Policiais, investigação científica e tudo que era setor criminal estavam envolvidas nessa busca, enquanto eu caminhava para o encontro de Patrícia, o mundo me queria, estava famoso mesmo ninguém sabendo minha real identidade.
Antes de entrar naquela loja, respirei o que seria o último ar em meus pulmões, sabia que dali não teria mais volta, dei uma olhada ao meu redor, as imagens iriam ficar eternizadas em minha alma, estava feliz e ela ansiosamente me esperando. Ao abrir a porta daquele lugar, senti o cheiro da morte pairando, o corpo daquele velho estava azul servindo de banquete para vermes, apreciando a revolta humana. Renata olhava de um jeito a não entender nada.
- Veja isso, olha o que aconteceu com minha loja? Disse ela.
- Tenha calma, iremos para um lugar mais seguro, agora se sente aqui. Disse a Renata, era uma das poucas conversas que eu tive com ela sem ter alguma alteração em meu organismo. Não estava dopado, ela sentou como quem quisesse resposta para aquela situação toda, não sabia o porquê de estar naquele lugar. A câmera filmava tudo.
- Renata, foi aqui que você quis embarcar em minha vida, você deixou de lado toda uma vida sólida para se aventurar com um qualquer, nem quis saber as conseqüências que iria trazer toda essa mudança, mas quis entrar nesse navio afundado, o que você queria provar a si mesma? Esse era o teu desejo? Uma burguesinha se aventurando no submundo? Até agora você se comportou, me surpreendeu por tentar fingir que queria uma vida dessas.
Ela ouvia tudo sem dizer nada, a câmera gravando e soltando na rede. Naquele mesmo tempo as autoridades já estavam associando o outro vídeo com este e rastreavam a origem das imagens.
- E me rotulam de marginal, se marginal é não estar conivente com todo esse sistema falho, então eu sou sim! Mas o errado aqui é você, não dar valor aqueles que estão próximos, não ser grato por aquilo que se tem, problemas e tragédias todos têm na vida. O que te faz humano de verdade é poder levantar a cabeça depois de sermos derrubado pelas surpresas negativas que a vida nos prega, não venha me dizer que só você tem problema, NÃO! Todos têm, mas e daí?! Você é fraca, quem desistiu de viver não fui eu. A partir do momento que trepamos nesse mesmo chão você teve sua dignidade vendida e isso é como trair a própria alma.
Coloquei a mão no bolso, retirei aquele pequeno pacote. Aquele pó branco enfileirava em minhas mãos ásperas. Renata não conseguia falar nada, possivelmente já tinha idéia do que iria acontecer ali. Cheguei perto da câmera, cheirei aquilo tudo.
- Vocês do outro lado, com a bunda colada em sua poltrona confortável, quando que irão entender o sentido disso tudo que nos rodeia? Não entende que nesse comodismo nada se resolve, você é o culpado de sua vida estar desse jeito. Eu sei e vocês tentam fingir não saber, que todos querem salvar o mundo. Mas ninguém mexe um dedo para lutar, gritar e ir contra toda essa hipocrisia que nos cerca.
-Mosca, o que pretende com isso tudo? Por que está falando desse jeito?
 Entre tantas coisas que ela começou a dizer, pude compreender somente isso. Estava ficando tonto.
- Isso tudo não é nada, você irá compreender daqui a pouco. Agora vou te amarrar aqui.
- O quê? Respondeu-me em um tom sério.
- É isso mesmo que farei! Vai fazer o quê quanto a isso? Disse a ela apontando minha arma em sua testa.
Então Renata engoliu as palavras, amarrei suas mãos e pés na cadeira. Aquela altura as autoridades estavam chegando e meu tempo se esgotando. A câmera registrava tudo e o mundo acompanhava aquele circo todo. Agora ela chorava, deve ter finalmente entendido tudo que disse, caiu na real.
- Minha mãe, aonde você está? Preciso do seu colo.
 Ela sussurrava para si mesma, parecia estar rezando, suas lágrimas escorriam em sua pele até cair naquele chão embebido de sangue.
- Fábio, o local está cercado, não tem por onde escapar, solte à senhorita Renata e resolveremos isso da melhor maneira possível.
 Com ajuda de megafone a voz do capitão da polícia soou o alerta, comigo não tem negócio, não há alternativas e os ponteiros do relógio davam seus gritos.
- Todos estão presentes, o espetáculo dessa noite não trás nada que não conheçam, estão vendo esse show constantemente. Todo mundo está aí? Não sou eu que estou apertando o gatilho, são todos aqueles que não dão valor as coisas básicas, o amigo, o lugar pra viver, não têm no que acreditar, não possui sonho.
Olhei para Renata, estava de cabeça baixa.
-Renata, olhe para mim. Disse a ela.
Quando aqueles olhos cheios d'água se encontraram com o meu, atirei em sua cabeça. A força foi tão grande que ela caiu junto ao velho, o buraco em sua nuca parecia uma bola de tênis. A polícia ouviu os tiros, estavam querendo invadir.
- Veja isso, todos vocês apreciando toda essa barbárie e não fazem absolutamente nada?
Renata estava desfigurada no chão vermelho, se foi com os olhos abertos, registrando até o último segundo de vida.
Estão entrando e o meu tempo nesse universo terminando. Novamente cravei os olhos na lente e me entreguei.
- ‘’A insanidade sorri, sob pressão estamos pirando. Não podemos dar a nós mesmos mais uma chance. Por que não podemos dar ao amor mais uma chance? Por que não podemos dar amor? Pois o amor é uma palavra tão fora de moda e o te desafia a se importar com as pessoas no limite da noite. E o te desafia você a mudar nosso modo de nos preocupar com nós mesmos. Esta é a minha última dança. Isto somos nós mesmos. SOB PRESSÃO!’’.
- FÁBIO NÃO FAÇA ISSO! Disse o capitão da policia, tentando parar o inevitável.
Rapidamente meus lábios se queimaram no cano da arma que ainda estava quente e pousava em minha boca.
 Senti naquele momento um milhão de emoções, um milhão sensações.
 Minha última dança.
 E já não quero mais voltar.

FIM.


Marcos P. S. Fachin